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Jaqueline Koschier | Licenciada em Letras pela UFPEl | Mestre em Literatura pela FURG | Professora de Literatura, Redação e Língua Portuguesa desde 2000. Atualmente morando em Bagé e trabalhando na UNIPAMPA

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vestibular de Verão da UFPel...


Esta é questão 01 da prova do vestibular de verão da ufpel...

01. Uma das características do Realismo é a introspecção psicológica. No conto Os Braços, de Machado de Assis, ela se manifesta, sobretudo,
(a) no comportamento grosseiro de Borges, que impõe medo a sua antagonista, D. Severina, e desperta ódio em Inácio.
(b) nas vivências interiores de Inácio e de D. Severina, que revelam seus sentimentos e conflitos.
(c) nas reflexões de D. Severina, que vê Inácio como uma criança que merece carinho e não o silêncio e a reclusão. Essa redenção de um personagem é uma das marcas desse movimento literário.
(d) na forma como o contato é estabelecido entre as personagens, ambas planas, já que a falta de
diálogo é uma constante em suas vidas.
(e) na onisciência do narrador, que, a partir do dilema moral vivido por Inácio, simboliza as contradições do homem da época.
(f) I.R.
Questão que se tornou ÚNICA uma vez que a questão 02 foi anulada.

Considerações iniciais:

O velho bruxo é um dos únicos autores capazes de unificar o programa de Leituras Obrigatórias das universidades de todo o país. Suas obras são pedidas em todos os estados brasileiros, tornando-se um dos autores mais lidos por vestibulandos. Portanto, é comum termos questões sobre suas narrativas, o que facilita a vida dos estudantes que optam por fazer vestibulares em várias Universidades. No vestibular da UNIFESP de SP (2007) cairam 6 questões sobre o conto UNS BRAÇOS, sendo elas:

INSTRUÇÃO:
O trecho do conto Uns braços, de Machado de Assis, é base para responder às questões de números 20 a 26.
Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (...) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada. “Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.” Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. Agüentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços. Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a idéia logo, uma criança! Mas há idéias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca dorapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra idéia não foi rejeitada, antes afagada ebeijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim.
(Uns Braços, de Machado de Assis)
20. De início, morar na casa de Borges era solitário e tedioso, o que levou Inácio a pensar em ir embora. Todavia, isso não aconteceu, sobretudo porque o rapaz
(A) passou a ser mais bem tratado pelo casal após três semanas.
(B) teve uma educação que não lhe permitiria tal rebeldia.
(C) se pegou atraído por D. Severina, com o passar do tempo.
(D) gostava, na realidade, do trabalho que realizava com Borges.
(E) sentia que D. Severina se mostrava mais atenciosa com ele.

21. Analise as duas ocorrências:
... uma criança!
Criança?
Essas duas passagens mostram que
(A) tanto os sentimentos de D. Severina como a sua razão mostravam-lhe que Inácio era ainda muito jovem para e dar às questões do amor.
(B) havia duas vozes na consciência de D. Severina: uma lhe proibia o desejo; outra o mostrava como possibilidade.
(C) D. Severina via Inácio como uma criança apenas, o que a perturbava muito, por sentir-se atraída por ele.
(D) D. Severina rejeitava qualquer possibilidade de uma relação com Inácio, já que não nutria nenhum sentimento pelo rapaz.
(E) havia um embate entre a consciência e a educação de D. Severina, o qual a impedia de aceitar o amor do rapaz.
22. Ao conceber-se bonita, D. Severina entendeu que
(A) era possível Inácio estar apaixonado por ela.
(B) sua beleza não era para ser desfrutada por uma criança.
(C) a traição a Borges seria um grande equívoco.
(D) Inácio, de fato, desejava vingar-se de Borges.
(E) o marido não a via assim, ao contrário de Inácio.
23. Quando se diz, ao final do texto, que D. Severina concluiu que sim, significa que ela reconheceu que

(A) deveria contar tudo a Borges.
(B) Inácio era um desastrado, de fato.
(C) estava enganada sobre o amor de Inácio.
(D) Inácio deveria ser advertido.
(E) Inácio começava a amá-la.
24. No discurso indireto livre, há uma mistura das falas do narrador e da personagem, de tal modo que se torna difícil precisar os limites da fala de um e de outro. Esse tipo de discurso ocorre em

(A) No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso.
(B) Voltava à tarde, jantava e recolhia-se ao quarto, até a hora da ceia; ceava e ia dormir.
(C) “Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.”
(D) Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita?
(E) Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos.
25. A expressão — um princípio de rascunho de buço — indica que o buço de Inácio

(A) mostrava-o homem formado.
(B) não podia ser visto.
(C) já estava bem evidente.
(D) era ainda incipiente.
(E) chamava muito a atenção.
26. Uma das características do Realismo é a introspecção psicológica. No conto, ela se manifesta, sobretudo,

(A) no comportamento grosseiro de Borges, que impõe medo a D. Severina e desperta ódio em Inácio.
(B) nas vivências interiores de Inácio e de D. Severina, que revelam seus sentimentos e conflitos.
(C) na forma solitária como Inácio se submete no trabalho com Borges, sem que pudesse estar com sua mãe e irmãs.
(D) nas reflexões de D. Severina, que vê Inácio como uma criança que merece carinho e não o silêncio e a reclusão.
(E) na forma como o contato é estabelecido entre as personagens, já que a falta de diálogo é uma constante em suas vidas.
GABARITO: 20: C / 21:B / 22:A/ 23: E/ 24: C / 25:D / 26:B
Notaram alguma semelhança com a questão 01 (2008/2009) da Ufpel ????????
Depois ainda reclamam dos alunos que usam o "ctrl c" e "ctrl v"....
Piada! E o pior é que os palhaços do circo somos todos nós que pagamos impostos, inscrição... investimos tempo, dedicação e honestidade em nossos estudos...
Como piorar é SEMPRE POSSÍVEL... a questão 02 da Ufpel conseguiu algo inédito: ser anulada do processo seletivo!
Pois é... seis meses para realizar DUAS MÍSERAS questões... uma é cópia e a outra foi tão mal formulada que acabou sendo anulada.
Eis a questãozinha:

(UFPel/CES – Processo Seletivo UFPel Verão 2009 (Aplicação: 18/01/2009) Em nossa lista de leituras obrigatórias paraesta prova, aparecem várias personagens femininas fortes. Assinala a alternativa que corretamente justifica a força da personagem a que faz alusão.
(a) Em O Cortiço, Rita Baiana, personagem plana, conota a sensualidade da mulher comum. Suas estratégias de sedução encantam o até então pouco ambicioso João Romão, impulsionando-o ao progresso e à riqueza material.
(b) Em Navio Negreiro, a força da escrava que protege do opressor o filho recém-nascido nos porões do navio simboliza a resistência do eulírico negro à violência do sistema.
(c) No conto Natal na barca, a fé da mãe que carrega o filho doente no colo provoca uma mudança de perspectiva na narradora, que é onisciente.
(d) Na obra árcade, Marília de Dirceu é um pseudônimo da princesa por quem o eu-lírico se apaixonou. Sua força está na ousadia em enfrentar os ditames da vida social na colônia.
(e) No poema de João Cabral de Melo Neto, Severino logra êxito em sua empreitada tãosomente por contar com o alento da mulher, em cuja anuência encontra forças para vencer no “sul maravilha” e derrotar a seca, sua antagonista.
(f) I. R
ANÁLISE DA QUESTÃO:
A intenção de exigir conhecimento sobre 5 obras do programa de Leituras obrigatórias foi a única coisa louvável nessa prova...
A opção A não é possível porque traz a falsa informação acerca de um envolvimento amoroso entre a Rita Baiana e o João Romão. Ora, sabemos que os amores de Rita foram o Firmo e o Jerônimo, além disso a assertiva diz que João Romão era "pouco ambicioso" e é exatamente o romance com a baiana que o faz ter algum progresso material...bobagem grande, afinal o cara SÓ pensava em grana...
A opção B também não é possível, visto que não há no poema de Castro Alves a ocorrência citada na prova.
A letra C seria aceitável caso não tivesse a indicação de "narradora onisciente", ora qualquer aluno do 1º Semestre de Letras sabe que não existe onisciência em 1ª pessoa...
A letra D transforma-se em uma bobagem ao afirmar que a Marília era uma princesa engajada em salvar a colônia brasileira....
A opção E também abusa na sucessão de erros. Não há o percurso ao "sul maravilha" e tampouco temos presença de personagem feminina relevante na trajetória do lavrador Severino.

3 comentários:

  1. Parabéns, Jack!!!!
    Também leciono Literatura. Não vivo "gauderiando"... mas "istico as perna" nessa área!!!
    Ótima análise!

    Marco Aurélio

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